Minha história + história
Mãe, festas, segurança pública e minhas histórias
Quando eu era pequeno, no lugarejo que nasci, a comunidade tinha uma cultura bem peculiar: nos aniversários serviam sempre cachorro-quente. Pra beber, depende: a classe A servia o refrigerante de Cola mais vendido no mundo (não vou dizer que é Coca-Cola pois não estou ganhando patrocínio). A classe B servia esses Pets de Cola da vida. Esse que tem a incrível capacidade de amargar até alma. A classe C e D servia suco feito do “Kisuki” ou o “Spin”. Famoso suco de pozinho. A classe “E” nem comemorava os aniversários…
Pois bem, convidado para algumas dessas festas, sempre indagava minha mãe porque não se servia suco natural, afinal de contas, é muito mais gostoso que refrigerante, “refrigereco” e suco de pozinho, além de que, na roça tínhamos frutas a vontade para o preparo. Lembro da minha mãe dizendo até hoje que desprovimento de graça (pra não usar outra expressão) pouca é bobeira, não bastava ter nascido pobre, era preciso ter mente de pobre. Onde já se viu? Suco natural… ninguém serve isso. Eu dizia: um dia, chique será tomar suco natural…
No meu recanto não se fazia festa de casamento (isso era coisa só para os ricos). Nós fazíamos (e algumas famílias até hoje o fazem) almoço de casamento. No sábado, se fazia um grande almoço e a comunidade era convidada. O problema é que, acostumado com a comida simples do dia a dia, nunca me acostumei com aqueles alimentos diferentes que eram servidos: maionese, salpicão, arroz todo “papagaiado”, etc. Vez ou outra alguém ainda passava mal com aquelas maioneses. Lembre-se que nós não éramos acostumados a comer e o pessoal que oferecia, não era acostumado a fazer. Ovo mais calor, já viu né? Isso quando não chegava o ladrão da alegria. Ladrão da alegria é kit cebola. Só faz a gente chorar e é ruim demais. Se cebola viesse com manual de instruções estaria escrito: não coma! Mais uma vez lá vou eu:
— Mãeeeeheeee, porque não serve umas comidas gostosas no casamento, tipo, quiabo com frango?
Eu era e sou doido com quiabo com frango, principalmente o que minha avó faz, feito no fogão a lenha, em panela de pedras, cortados bem pequenos e com aquele angu molezinho… (e não este que é servido nos restaurantes, cheio de baba e parece uma argamassa).
— Pobreeeeeeeeeeeee!!!
O tempo passou e mostrou que eu estava certo sobre o suco. Nas festas, o chique é:
— Senhor, prefere suco de uva ou de goiaba? Pergunta o garçom.
As vezes a qualidade de uma vida melhor, a solução para um problema (e aqui entra a questão da gestão pública), está no terreiro de casa, ouvindo e colocando em prática aqueles que parecem nada entender.
Sobre o quiabo com frango, permita-me contar-lhes um fato. Quando eu me graduei na faculdade, junto com meu irmão, fomos os primeiros na família a conseguir ter um curso superior. Minha mãe toda feliz resolveu fazer um jantar para amigos próximos e familiares comemorando o evento. Eis que escondido de nós ela resolveu testar minha teoria. Havia duas mesas, uma com salpicão, carne de boi, maionese, tutu e arroz e outra mesa com quiabo com frango, arroz, feijão e angu. Minha mãe colocara em teste naquela noite a maior teoria que eu havia desenvolvido em toda minha vida. Buracos negros, teoria da relatividade, origem do universo que nada… a maior teoria de todos os tempos afirmava que quiabo com frango era melhor que a comida de casamento – pelo menos, para um menino de 08 anos (época que desenvolvi a teoria).
Uma hora depois de iniciado o jantar um tacho de quiabo com frango já se encontrava limpo, vazio. Eu estava certo, essa comida de mineiro venceu a outra, que ficara, quase intacta. Essa mudança eu não verei implantada, mas eu provei minha teoria…
As vezes a qualidade de uma vida melhor, a solução para um problema (e aqui entra a questão da gestão pública), está no terreiro de casa, ouvindo e colocando em prática aqueles que parecem nada entender.
Aqui, deixo ressalvado minha homenagem a pessoa que mais admiro no mundo: minha mãe. Certa vez, um pastor me disse que ouvir era uma arte. E o é, contudo, a nobreza não é ouvir. Muita gente houve. Já peguei meu pai falando com os gatos lá de casa, minha esposa falando com a Lilita (se quiser saber quem é a Lilita clique aqui), contudo, nem o cat nem a dog colocaram nada em prática. Minha mãe o fez. Vamos a história…
O rei francês Luiz XIV, a quem é atribuído a frase “O Estado sou eu”, é a personificação que resume esse comportamento entranhado na sociedade de visões arrogantes. Não vai fazer e pronto ou o contrário, afinal de contas, manda quem pode obedece quem tem juízo mesmo que dê prejuízo. Luiz XVI – outro rei – foi o único a ser morto na linhagem real francesa justamente por levar a França ao caos e ser acusado de tirano. Morreu nas mãos dos seus. Jânio Quadros teria dito: fi-lo porque qui-lo. E não bastasse o português incorreto da frase que rege certos administradores públicos, alguns resolveram gerir assim. Logo, como dizia Lenine:
“Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência” (Paciência).
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*Bem, todos morreremos, mas e dai, certo? Eu estou certo!* E , assim, os bons se omitem e permitem serem guiados por decisões, imposições que, muitas das vezes, nos guiam para um abismo sem fim e contraria o ideal de bem estar do ser humano(mas esse eu questiono que, por ser imediatista, nós, seres humanos, nos agarrarmos a sensações instantâneas, afinal, o importante é o alívio imediato). Enfim, sem perder o foco, seu texto me fez refletir sobre o quanto é difícil aplicar no Brasil políticas de médio e longo prazo e por que a cada 4 anos um novo sentimento imediatista surge e achamos que vai tudo mudar da noite para o dia. Enfim… Vou refletir mais sobre isso e entender mais a minha realidade… É, nada de teoria da relatividade ou a visão profunda de Carl Sagan, na minha noite tem o ótimo texto do meu caro Wesley!
Amigo, muita coisa serve de inspiração para escrever um texto, mas sem dúvida, isso que você citou eu sempre lembro. Oriundo de uma pequena cidade, ver os prédios públicos pintados a cada quatro anos de cores distintas é dose.
Falta política de Estado e não de governo para andarmos pra frente, mas no Brasil ninguém quer deixar uma obra para outro inaugurar, logo, nossos investimentos são a curto prazo.
No mais, obrigado pelos elogios.
Muito bom! Parabéns, Sr° Ten!
Obrigado
História bacana… não há como ler os relatos e não viajar para roça (lugarzinho abençoado). Parabéns! Ótimo texto.
Rapaz, viajar para a roça é meu descanso…literalmente.
Excelente texto nobre poeta
Obrigado. Essa parte do poeta o pessoal do site não sabe, ainda.
Olha aí…kkkk
Muito bom, amigo !
Fiquei com saudade da roça e de frango com quiabo rsrsrd .
Abração
Nem me fale. Deu agua na boca escrever esse texto.
Bom texto, boa crítica.
Valeu.
Mineiro e suas teorias… Pena que os mais importantes nunca ouvem os menos importantes. Já passei isso em casa com meus pais também. Pior é quando eles não tinham conhecimento do terreno e juravam ser os donos da verdade. Eu já conhecia o litoral (havia viajado com vizinhos) e posteriormente meus pais foram à praia pela primeira vez. Quando chegamos, eles por uma questão de hierarquia, começaram a mandar em tudo e me ignoraram completamente. Meu pai o soberano, foi dar uma “nadada” já quando a maré havia subido e eu fiz o alerta, o que prontamente foi ignorado, quando entrou começou a se afogar, pois onde antes era raso, agora havia se tornado fundo. No frigir dos ovos, com muito aperto conseguiu se sair daquela enrascada e de quebra tomou um belo “caixote” na saída devido às ondas que naquele momento havia triplicado de tamanho. Vejo que gestores também agem como seus pais ou os meus, ignoram os que estão abaixo na linha hierárquica e também aqueles que conhecem bem melhor a área de atuação e acabam tomando seus “caixotes” vida a fora.
Cuida do seu pai hein…rs…não deixe ele se perder em caminhos que não conhece…rs…principalmente em rios e mares nervosos.
Obrigado.
Às vezes procuramos fazer sempre o complicado, quando a solução dos problemas está na simplicidade. Levemos esse texto para o nosso dia-a-dia. Outro ponto interessante é colocar em prática as teorias para realmente ver se são eficazes, sair do campo do “achismo”.
Marcos;
Excelente comentário. Estamos lidando com humanas e não com exatas, logo, as teorias devem ser testadas. E outra, conforme disse abaixo, nem sempre o que é bom pra um será para outro…testar pra ver.
Excelente texto! Muito agradável a leitura, especialmente por nos remeter as coisas boas do passado.
Um pouco de nostalgia…rs.
Obrigado pelo elogio.
Estamos sempre “importando” tecnologia, modismo e até pessoas, na ilusão de que respostas externas, as quais funcionam para problemas distintos dos nossos, sejam também solução para as nossas angústias. Ledo engano, o que é ótimo para os outros, necessariamente não é bom para mim. Bom mesmo é aquilo que é nosso, cultivado no nosso terreiro, feito no nosso fogão e sobretudo, saboreado pela nossa família. Aí sim, é que nem frango caipira com quiabo: É UM TREM BÃO DEMAIS DA CONTA!! De comer com os olhos e lamber com a testa.
No comentário “É um trem bão demais da conta”, faltou o sÔ…kkkk
Realmente, ficar importando bugigangas não necessariamente resolvem nossos problemas. As vezes, o remédio é caseiro.
Muito bacana esse texto meu amigo, só tem um problema, tinha que ter substituído o quiabo pela batata!!!!kkkkk No mais ficou muito interessante e realmente faz a gente voltar no passado…
Vou colocar hambúrguer com cheddar e catupiri que aí agrada todo mundo…rs