Relato de um policial militar
Atualmente, é recorrente vermos opiniões “vazias” contra ou a favor da polícia em suas ações com emprego da força. Em regra, essas pessoas opinam por terem ouvido alguém falar e então reproduzem, achando “bonito” e até culto. Poucos conseguem enxergar de onde parte a problemática ou estruturar argumentos sólidos para defender seu ponto de vista.
Sendo assim, não poderia deixar de publicar esta carta – no mínimo – sensata. Leiam e me digam!
Ser policial e andar com uma lupa de análise política no bolso quase sempre é trágico. Leva-nos a conflitos internos, terremotos morais, furacões éticos. Sim: estou falando da atuação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, digo, estou falando da minha atuação nos protestos em favor da redução das tarifas de transporte público em São Paulo. No front, companheiros, sabemos todos nós policiais (caso este texto seja publicado), no front não há raciocínio. “A determinação é desocupar a Avenida”. Um sentimento de dever nos une, e a determinação será cumprida. Deve ser cumprida. Por nós, que pegamos ônibus e metrô, e somos pouquíssimos partidários dos governos: são eles, afinal, que nos submetem a condições de trabalho questionáveis, que nos pagam salários inadequados com a natureza da função que exercemos, que incita a polícia a agir, mas que degola o primeiro que parecer abusivo à opinião pública. Afinal, soldado morto, farda noutro.
Vi baderneiros e atos descontrolados de manifestantes: danos desnecessários, resistências à ação policial, incitação à violência. Cá para nós, coisa natural em protestos e manifestações contra os governos.
Diferentemente de tropas militares, manifestantes civis em reivindicações não possuem controle central, determinação uniformizada de ordens. Diferentemente da polícia, que quando é violenta com certeza acata a um interesse específico, a população em protesto pode tender à irresponsabilidade de uns poucos. E isto não deslegitima a causa.Vi policiais assumindo a lógica “nós contra eles”, como se na guerra estivessem, vi colegas ingenuamente assumindo-se engrenagem de uma máquina que está longe de ter como fim “a manutenção da ordem pública”. Vi o despendimento de uma estrutura militar significativa para calar a voz de cidadãos, para evitar sua permanência no espaço público, para negar a insatisfação que, lá em nosso âmago, faz parte de cada policial militar (salvo alguns que, certamente, estão bem privilegiados nos altos escalões de poder).
Cumprimos ordens, é verdade, mas elas pelo menos devem ser investigadas quanto às suas naturezas, quanto ao que representam politicamente, quanto a seus desdobramentos sociais. Ouço colegas dizerem que, “se os baderneiros são violentos, não podemos nos omitir, a repressão deve ocorrer, a violência tem que ser devolvida”. Obviamente, permitir-se apanhar é absurdo: tão absurdo que não sei se alguém acha mesmo que pedir respeito à manifestação popular significa pedir para apanhar. Mas a violência institucional policial, que, repito, é organizada e obedece a um comando central, é uma contradição do ponto de vista dos fins da própria instituição, que está sustentada (a princípio) na produção da paz.
Policiais são profissionais, têm deveres, modo de atuação especificado, direitos a garantir, deveres a fazer cumprir. A sociedade, neste momento se reconhecendo enquanto corpo político reivindicatório, tem um elemento que vez ou outra surge, sempre incomodando bastante quem quer as coisas do modo que elas estão: ideal, coragem política e insatisfação coletiva. Como deveria ser a relação entre esses dois setores da mesma sociedade?
Sou a favor do que defendem os manifestantes. Sou a favor da ação policial que evite ações violentas de manifestantes. Sou a favor de ações policiais não violentas. Sou a favor que cada policial militar paulista reflita sobre o que representa seu bastão erguido, seu espargidor acionado, seu tiro de borracha disparado.
Trabalhamos para sobreviver, sem nossa profissão, não sustentaríamos nossas famílias, mas não é pequeno o conflito existencial de quem percebe que está jogando, porque é obrigado a jogar, o jogo de uns poucos, encerrados em seus gabinetes, presos afetiva e ambiciosamente à cadeira do poder. Lamento, tristeza e vergonha.
Hummm mto interessante o texto,já tinha lido antes.Realmente são situações a ser repensadas,pois as vezes falta senso comum,tanto da população quanto por parte da polícia que agem,muitas vezes, de forma leviana e irresponsável.É preciso se refletir sobre os limites das ações de ambas as partes,Pm e população para que situações como essas não se destine para um caminho caótico e subentendido por parte de todos.
Pois é meu nobre, dias difíceis estão passando a polícia e a população de São Paulo … de tempos em tempos esta antinomia vem à tona no Brasil. O grande problema que vejo é que a mídia está dando mais foco em falar do vandalismo do que expor o que causou toda esta bagunça … “retratos do nosso País” meu nobre.
É muito fácil julgar e apontar erros dentro da corporação militar,acredito que, assim como todos os outros segmentos de direitos básicos do cidadão como a saúde,moradia e educação,a segurança pública apresenta problemas internos,como a falta de preparo dos militares,inclusive os das forças especias,para controlar situações complexas,como protestos desorganizados em via públicas ,porém,não atribuiria a essa realidade todas as consequências negativas das manifestações que aconteceram em São Paulo e no Rio de Janeiro,assisti à reportagens,vi cenas de extrema violência tanto da parte dos civis como dos policiais,porém,a grande diferença é que os manifestantes demonstravam ódio,e descontavam todo o seu desapontamento como o seu país nos militares,que apesar de em alguns momentos demonstrarem excesso em suas medidas,estavam buscando impor a ordem,concluo que os cidadãos brasileiros não estão preparados para” a tal democracia “,lutar pelos direitos é um ato que ainda é irreal no Brasil,e quando feito,percebe-se a ausenci de organização e de foco dos manifestantes.Em fim,essa é apenas minha opinião,espero que muitos outros colegas coloquem aqui seu posicionamento sobre essa postagem tão interessante feita por Jordão…
oBS:JORDÃO TIRE-ME UMA DÚVIDA,ONDE GERALMENTE OCORRE O CURSO DE FORMAÇÃO DOS SOLDADOS EM SALVADOR(bairro)!GRANDE ABRAÇO!
E aí Layz, tudo certo?
Olha só, eu não se te responder este quesito, pois, de salvador conheço muito pouco. Mas, pelo que vejo falar aqui, são vários lugares onde ocorrem os cursos de formação, inclusive no batalhão da Choque – aonde o bicho pega … kkkkk
abraços e obrigado pela visita